sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Consciência Negra: Parabéns para a Educação no Brasil!

Hoje é dia da Consciência Negra e recebi do Depto. de Letras da UFS o link para um artigo sobre os 250 anos da oficialização da educação no Brasil, fazendo uma ponte com o caso da Dra. Ana Flávia Pinto. Não concordo com algumas coisas, mas o texto certamente contribui pra quem é formador de opinião.
 
Reproduzo na íntegra o artigo; é grande, mas vale a pena ler!
O texto está disponível também no link: http://www.ufs.br/?pg=artigo&id=130

E, claro, fica aquele abraço para a broderagem que contribuiu para a formação da cultura brasileira!
Que a consciência seja de todos.

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Parabéns para a Educação no Brasil!
Maria Aparecida Silva Ribeiro

No ano em que se comemoram os duzentos e cinqüenta anos da oficialização do sistema de educação no Brasil (Decreto de 1759 do Marquês de Pombal) e no mês em que um dos instrumentos de avaliação da educação nacional invade a cena dos noticiários pela suspeita de baixa isenção em seus procedimentos, um incidente localizado no pequeníssimo aeroporto do menor estado da federação cruza, de modo um tanto perverso, reflexões nascidas nas diversas instâncias de estudo da educação brasileira.

Num dos mais concorridos vestibulares do Brasil, candidatos de vários estados aspiram a uma vaga na Universidade Federal de Sergipe, disputando, muitos deles, durante anos seguidos, um lugar de um dos maiores departamentos desta instituição pública de ensino superior, maior em número de alunos, docentes, aulas ministradas, formandos etc - o Departamento de Medicina.

Em geral, vencem essa maratona os candidatos mais bem preparados. O que não quer dizer que os reprovados, ou não classificados, não tenham se esforçado – e muito. Mas que os que chegam a ocupar aqueles bancos escolares são os que foram efetivamente preparados para passar pela duríssima seleção; aqueles que, em geral, cursaram seu ensino fundamental e médio em instituições privadas, cujas altas mensalidades (principalmente, se colocadas na proporção dos salários pagos a professores, funcionários, trabalhadores de empresas públicas e privadas, dos diversos setores, da capital e região metropolitana; do interior, nem se fala...) lhes deram direito a um treinamento de rigor quase militar: horas e horas de estudo, de aulas expositivas, de técnicas de memorização – macetes, musiquinhas tolas para decorar fórmulas complexas – mediocridade disfarçada de esperteza; exercícios repetidos à exaustão – metodologia de rolo compressor – finais de semana inteiros dedicados a devorar apostilas insípidas, a simular provas, a comparar resultados – os seus com os de outros, os seus de hoje com os de ontem – em atividades massacrantes que, dentre outras coisas, os colocavam em permanente estado de ansiedade, os atiravam da euforia dos bons resultados à frustração nos testes em que não iam bem, mexiam com sua auto-estima, desestabilizavam seus humores. Enquanto isso, suas vidas passavam, sem se darem conta.

Mas, enfim, chegaram lá. Muitos da mesma escola seleta, da mesma superturma. Não é surpresa se encontrarem nas salas de aula das disciplinas do curso de Medicina classes inteiras de colegas de toda a educação básica, alunos que se conhecem desde o jardim de infância. Jovens que, à maneira do best seller dos anos oitenta, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, sabiam desde os oito anos de idade que seriam médicos. E que, para ser médico, num futuro que, à época, poderia parecer longínquo, teriam que ser o número um sempre, desde então. E que, desde então, colocaram em foco o domínio de um jogo que lhes garantiria, numa só tacada, a vaga no curso de Medicina numa instituição pública de educação superior – a mais prestigiada – e, como conseqüência, um lugar de destaque na sociedade sergipana, cujo usufruto de um título de “doutor” e conseqüente acesso a numerosos bens de consumo lhes garantiriam a recompensa por anos de trabalho árduo na escola e a satisfação de seus pais por terem dado a melhor educação ao seu filho.

No caso da médica que, no aeroporto de Aracaju, protagonizou um curta-metragem de péssimo gosto veiculado na Internet, além da conquista desse sonho de várias gerações de familiares, tinha também o de um casamento, com direito a príncipe encantado e lua de mel “no estrangeiro”. Epíteto de “doutora” acompanhado do de “esposa”, com direito a passaporte carimbado são, de fato, muitas conquistas acontecendo a um só tempo.

Mas no meio do caminho havia uma pedra.

A pedra em seu caminho foi o entrave à realização do conto de fadas da moça. E provavelmente não foi causado – apenas – conforme alegado por seu advogado de defesa, pelo estresse que sofreu por tanta felicidade junta.

Foi algo anterior e muito mais complexo.
Sem invadir levianamente o terreno pouco familiar das teorias do comportamento, já que o episódio é um prato cheio para psicólogos e demais interessados nas ações e reações humanas, fico com uma evidência cuja natureza tem ocupado, pelo menos, meus últimos quinze anos de estudos e prática profissional: a educação de crianças e jovens. Dito isto, avanço afirmando que a pedra no caminho da médica recém-formada e recém-casada resulta da precária apropriação que tem realizado, no decorrer do seu percurso formativo, das referências conceituais recebidas da família/escola/sociedade.

De fato, a moça deve ter sido filha obediente, boa aluna, amiga legal, em toda sua infância e adolescência. O sucesso inegável na prova objetiva, somativa, do vestibular que prestou, também, é sinal de esforço, disciplina, concentração. O casamento, provavelmente um sonho cultivado há muito tempo e compartilhado por outras jovens de sua idade, também diz alguma coisa a respeito de sua criação e formação familiar.

Mas, francamente, a moça não deve ter feito direito seus deveres de casa.
Por exemplo, se tivesse lido, bem, o bilhete de passagem que adquiriu, teria aprendido que a antecedência de check-in para vôo nacional é de uma hora e para vôo internacional, de duas.

Se tivesse lido os jornais dos últimos meses, teria se dado conta de que, atualmente, o chefe de estado mais poderoso do planeta é negro.
Se tivesse acompanhado um pouco das chamadas “atualidades”, que também é matéria dos concursos públicos, saberia que o presidente de seu país, já em seu segundo mandato, tem origem pobre, não ostenta diploma de ensino superior, embora os investimentos que têm feito em educação, inclusive na “superior”, revelem uma atenção especial a esse setor. Passível de críticas de diversos grupos, a que todo administrador da coisa pública certamente está sujeito, foi chamado de The Man por aquele chefe de estado mais poderoso do mundo. Uma expressão que, em inglês, quer dizer, mais ou menos, “O Cara”, com certeza não por sua origem ou pelo jeitão coloquial – em geral, pouco comuns em um estadista – mas pelo prestígio internacional que tem adquirido em sua trajetória.

Oh, mas a moça precisava relaxar! Se ela tivesse então, ao menos, visto um pouco da teledramaturgia nacional recente, a boa e velha novela das oito, veria que já existe uma Helena, do Manoel Carlos, moradora do Leblon, musa da glamourosa cidade de Búzios,(que já teve Brigitte Bardot como musa) que é (!) negra. Cuja interpretação coube à atriz que já foi protagonista em outra época, dando vida à Xica da Silva, a escrava tornada princesa à força dos diamantes, no Arraial do Tijuco ou Diamantina do período colonial – essa aula de História a doutora deve ter perdido.

Mas, com certeza, leu Machado de Assis. Porque o vestibular a obrigou. E será que não reparou, na leitura de sua biografia, que o maior escritor brasileiro de todos os tempos, fundador da Academia Brasileira de Letras era (!) negro?
Fragmentos de informação, pequenos detalhes que a escola deixou passar, ou que a leitura apressada dos textos dos livros, e dos textos da vida, não captou. Referências subliminares que os currículos formais não fizeram questão de ressaltar. E tampouco a leitora, de nível superior, fez questão de se apropriar: temas transversais, ligados ao momento histórico vivido pelo país e pelo mundo, tópicos de estudo sobre diversidade, tolerância, civilidade, educação social.

É fato que a moça tentou se redimir: à maneira das meninas da escola primária, surpreendidas em uma travessura qualquer na hora do recreio, pediu desculpas ao coleguinha. Mas foi de costas, na TV. Talvez para não prejudicar sua imagem de profissional da saúde (em geral, preocupados com o bem-estar coletivo). Só que, quando insultou o rapaz, estava de frente, aos berros, atirando ao chão objetos do guichê da companhia aérea, em sua fúria desmedida por ouvir, talvez como poucas vezes em sua vida, um não. E tampouco se importou de se declarar médica, na ocasião. Não parecia importar-se com o impacto de suas ações sobre sua carreira. Sua profissão parecia estar, pelo contrário, a serviço de uma “satisfação imediata ou seu dinheiro de volta”.

No calor da emoção, também, não tinha consciência de que havia uma câmera apontada para ela. (Nestes tempos de big brother, para o bem e para o mal, há sempre uma câmera atenta, à espera de uma imagem (in)digna de ser reproduzida. Às vezes, por sorte, a lente mira os infratores, os que têm algo a esconder. Como aqueles policiais lá do Rio de Janeiro, que deixaram o coordenador da ONG AfroReggae, educador social atuante, agonizar até a morte, depois de sofrer assalto, agressão, com o requinte de agentes da lei lhe subtraindo os pertences que os ladrões deixaram para trás.

Ainda bem que a mesma câmera que registra caras e bundas, registra coisas bem mais vergonhosas, criminosas e passíveis de punição (cujos processos, no caso dos dois crimes – omissão de socorro e racismo – faremos questão de acompanhar, pelo mesmo monitor indiscreto).

Neste ano, que a educação escolar no Brasil completa dois séculos e meio, especialmente neste mês de novembro, em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra, meu recado, minha admiração vai para a família que educou, muito bem, o funcionário da companhia aérea que atendeu à doutora.

Para mim, de fato, ele também é O Cara!


Currículo
MARIA APARECIDA SILVA RIBEIRO é Doutora em Letras pela PUC-RIO, Professora Adjunta do Departamento de Letras da UFS. Colaboradora do Programa Nacional de Inclusão de Jovens, PROJOVEM URBANO.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Caso Ana Flávia

Você, caro leitor, já deve bem ter percebido que os cameramen amadores estão em alta na imprensa. Os casos mais famosos recentemente foram os vídeos do "DEVOLVE O MEU CHIP, PE-DRO!" e da professora baiana dançando o "Tudo enfiado" e fazendo strip-tease no palco. Os dois protagonistas dos respecitvos fatos, aliás, viraram algum tipo de celebridade depois da notoriedade dos vídeos.

Agora temos mais um caso bombando no Youtube: o da médica sergipana Ana Flávia Pinto, que protagonizou um escândalo na madrugada do último dia 26, num flagrante claro de racismo contra um funcionário da GOL, Diego Gonzaga, ocorrido no aeroporto Santa Maria, em Aracaju. (Assista AQUI o vídeo e tire suas próprias conclusões).

A dra. Flávia, que deveria embarcar para sua lua-de-mel na Argentina, chegou ao aeroporto faltando 15 minutos para o embarque, e - obviamente - foi proibida de embarcar. Descontrolada, a médica pulou o balcãozinho do check-in da GOL e se sentou na esteira de bagagens, recusando-se a sair. Daí começou a profusão de ofensas contra os funcionários: "Quem vai pagar minha passagem? Esse morto de fome, que não tem nem onde cair morto? É um povo bando de analfabeto [sic] que não tem nem onde cair morto. Não tem dinheiro nem pra comprar feijão. Esse 'nêgo'."

Fiquei com dó do marido dela, coitado, em plena lua-de-mel ter que passar uma vergonha dessas. O cara ainda tentou amenizar, tentando fazer com que a mulher saísse da esteira. E quando ela finalmente saiu, avançou para o balcão dos computadores onde os funcionários do check-in trabalhavam para quebrar o máximo que pudesse. (Não sei o que aconteceria se chegasse um negro rico no consultório da Dra. Flávia).

Na nota oficial de desculpas, ela afirmou que seu comportamento ocorreu "em razão do estresse, ansiedade e desgaste físico relacionado às fases antes, durante a pós núpcias." Que seja, não importa. Poderia ter sido um pobre ou outro rico a fazer isso; um negro, um asiático, um índio, qualquer pessoa. A questão é que a reação violenta é só uma amostra do quanto o preconceito, a discriminação e o racismo ainda estão presentes de forma tão latente na sociedade. 

O século XXI está tão contraditório, mas tão contraditório, que tem sido o século da tecnologia, da 'modernidade', do acelerador de hádrons, e o século da continuação cultura da violência. E, a propósito, como disse o velho Einstein, "a Terceira Guerra Mundial, se houver, vai ser travada no pau e na pedra." Né?







quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Um filme de anti-história

Uma paródia, um arremedo de história, e reconstruída cheia de culpas.



"Bastardos Inglórios" (Inglorious Basterds, 2009), o novo filme do diretor Quentin Tarantino, acusa em todas as entrelinhas o que o cinema pode fazer sem precisar de provas, sem precisar de fatos, pois ele mesmo constrói e reelabora como bem os entender. Neste longa já tão aclamado mundo afora, Tarantino "muda" a história e dá a punição supostamente "merecida" pelos massacres nazistas cometidos durante a Segunda Guerra Mundial (que, a propósito, em 2009 se rememora os 70 anos de seu início).


É o sentimento de vingança a força motriz do filme. Num extremo está o protagonista, o tenente norte-americano Aldo Reine, do Tennessee (um Brad Pitt bastante incomum, com um sotaque im-pa-gá-vel que me arrancou algumas das melhores risadas do filme de duas horas e meia - vide Reine tentando arranhar italiano numa festa, no úlitmo capítulo). Reine lidera os "Bastardos", um grupo de oito soldados judeus norte-americanos que embarcaram para a França ocupada em 1944 com o objetivo de matar krauts (nazistas alemães), perpetrando uma crueldade semelhante às atrocidades nazistas. Essa "justiça com as próprias mãos" segue o padrão de escalpelar os soldados depois de mortos, ou esmagar seus crânios com um taco de baseball (o "especialista" com o taco é o "Urso Judeu", personagem interpetrado por Eli Roth, também judeu. A família de seus avós foi assassinada na Alemanha nazista. Roth, em entrevistas, disse que se sentiu vingado ao interpretar o personagem).


 A outra face da vingança é Shoshanna Dreyfuss, uma judia que presenciou o massacre de sua família comandado po um oficial alemão. Anos mais tarde, dona de um cinema, Shoshanna acaba atraindo o interesse de um jovem oficial alemão, ironicamente o protagonista de um dos filmes da propaganda nazi de Goebbels. Decidido que a estreia seria no cinema da moça, à qual compareceria o alto escalão nazista, Shoshanna também decide agir por conta própria e transformar o espetáculo num inferno terrestre.

O propósito é claro: dar o "troco" nos "selvagens" nazistas. E é quase impossível, no final, não estar torcendo pelo sucesso dos Bastardos. Fui contagiada pelo sentimento de satisfação pela vingança "merecida" que emana dos personagens, e quando o escalão nazista foi pelos ares, incluindo Hitler, não pude deixar de aplaudir (ok, sozinha) e me empolgar, quase me levantando da poltrona: "Eeeeita, filme bom da pega!" (Mas, caramba, essa é, de longe, uma das melhores cenas, ao lado da sequência na taverna e do embate final entre Reine e Landa!).


"Bastardos Inglórios" é um filme às avessas, de anti-heróis, de anti-história, de pseudo-vitórias e pseudo-derrotas.  Tarantino se supera, provando que "mudar" os fatos evidencia que a história não é de ninguém, e que mexer com memórias tradicionalmente sacralizadas como as da perseguição aos judeus durante a IIGM leva a crer que o processo de perpetuação das mesmas ainda abriga sentimentos tão humanos como ódio, vingança e redenção.

domingo, 6 de setembro de 2009

Sobre músicos, acarajés e ukuleles

O Beirut fez sua primeira apresentação no Brasil nesta sexta última, na cidade de Salvador. A apresentação fez parte do primeiro dia da 16a. edição do PercPan, Panorama Percussivo Mundial, considerado o maior festival de percussão do mundo.
Em Salvador os shows foram dias 4 e 5 de setembro. No Rio de Janeiro, acontecerão dias 8 e 9, com o Beirut no dia 9.

Acompanhe o comentário do show em: http://magicacaixa.blogspot.com/2009/09/o-primeiro-show-do-beirut-no-brasil.html

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Meus oito anos

Da saudade daquele tempo em que minha preocupação maior era o dever de casa, me veio a lembrança deste belo poema de Casimiro de Abreu.

Meus Oito Anos
Casimiro de abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência! -
Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar - é lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito, -
Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais! -
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mimetizando

Acabei de assistir a versão brasileira do "British's Got Talent", um horror de imitação.
O "Qual é o seu talento?" não passa de um programa de auditório, com um 'repórter' que faria boa figura num filme Harry Potter, e quatro 'jurados' absolutamente parciais. Cadê a dureza do Arnaldo na hora de avaliar a performance de um guri de quatro anos coreografando pagode na TV aberta? Deixa pra lá, se o Conselho Tutelar deixou, né? Deixa, só porque o garotinho é negro e pobre, e teve graves problemas de saúde quando nasceu, e, claro, isso é comovente, e com certeza o público não gostaria nem um pouco se ele não fosse classificado, pobre garotinho...

Ah, e tem também a versão brasileira do Paul Potts! É um 'limpador de vidros' que canta ópera; inclusive ele cantou a "Nessun Dorma", mesmíssima música que o Paul cantou na versão inglesa do programa... E, claro, o dos vidros contou antes sua história comovente, que passou por momentos difíceis trabalhando fora do Brasil, mas que sempre amou a música e o pai dele morreu e ele não pode ir ao enterro, mas que o velho queria que ele fizesse o que gostava, bla bla bla

Sabe, uns disseram que a vida imita a arte, outros que a arte é que imita a vida, aí tem aquela coisa da mimesis e da diegesis, mas hoje tá tudo uma bagunça: a arte imitando a arte, a "arte" imitando a "arte", a vida imitando a "arte", a "arte" imitando a "vida"... enfim.
Por favor, me dêem algo novo. Preciso de uma catarse.
Obrigada.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Viagens no tempo - Parte 1

Aproveitando um tempinho de folga, aproveito para publicar essa postagem que já estava cozinhando na cabeça desde ontem. Hoje vou falar sobre viajar no tempo. OH! Coisa de criança?



A maioria das pessoas que imaginam viagens no tempo geralmente associam isso a uma máquina. Como H. G. Wells, no livro que deu nome ao filme "A Máquina do Tempo", ou até o Delorean da trilogia "De volta para o futuro". Há também os que imaginam viajar no tempo/espaço através de portais, como os criadores do primeiro filme "O Exterminador do Futuro", ou mais ou menos como os de "Stargate", aquela famosa série do final dos anos '90. E há aquela tendência mais diferenciada de "Efeito Borboleta", em que, para viajar por suas memórias, o protagonista pode fazê-lo através dos seus cadernos e fitas de vídeo.

Há quem queira voltar no tempo para consertar erros e tomar umas atitues, em vez de outras.
Não penso muito nisso. Imagino viagens no tempo e no espaço para responder perguntas da minha curiosidade, ou simplesmente para observar e saber se a História tem feito jus ao passado. Claro, não basta pra isso voltar só no tempo: no espaço também. Pra fazer coisas com algumas pessoas. Como por exemplo...


1. Brasil, 1984 - O país imaginado: campanha pelas Diretas.
Ok, em 1984 eu já era nascida, mas com 2 anos de idade não dá pra ter muita noção do que vinha mudando na cena política e social brasileira depois de vinte anos de ditadura militar e repressão aos direitos, especialmente os direitos civis.


Quem de fato saía às ruas pra exigir eleições diretas pra presidente? Que pessoas, que artistas, que trabalhadores? E o que diziam, como diziam, no que pensavam? Como eram realizados os comícios? Quem ia pra lá? O que essas pessoas conversavam enquanto esperavam o comício conversar?
Apesar de frustradas, as Diretas Já foram um marco em termos de manifestação na longa marcha pela cidadania no Brasil.

(Quer saber mais? Consulte Cidadania no Brasil. O Longo Caminho, do José Murillo de Carvalho, um senhor livro.)


2. Paris, França, 1975. Às margens do Sena com Milan Kundera.

Depois do que ficou conhecido como "Primavera de Praga", um nome bonito para uma repressão nada bonita realizada pelas forças soviéticas contra a abertura do socialismo tcheco, em 1968, muitos intelectuais e profissionais liberais, e gente envolvida com a resistência, teve que deixar a então Tchecoslováquia. O jovem escritor Milan Kundera foi um deles, indo exilar-se em Paris, em 1975.

Durante minha conversa com Kundera, regada a cafés com creme, croissants e charutos, num cafezinho simpático às margens do Sena, ele me contaria a história da resistência tcheca do seu próprio ponto de vista, e como o contexto político deu o tom a "A Insustentável Leveza do Ser". Me diria também, lógico, porque eu sou bem "brother", em que pensamentos e sentimentos se baseou para compor a história de Thomas e Thereza, personagens tão opostos e tão complementares. E, calro, tiraria uma casquinha dele, porque o cara era um pão quando era jovenzinho. O que confirma a minha máxima de que a França exala romance e rebeldia por cada um de seus poros.

(Sobre a Primavera de Praga, Eric Hobsbawm dedica um capítulo do seu livro Era dos Extremos - O Breve Século XX.)

3. Hamburgo, Alemanha, 1957. With the Beatles!

Nessa época não existiam casas noturnas e muito menos discotecas em Hamburgo. Os lugares que faziam os dias e as noites passarem a toque de caixa e rock'n'roll eram as boates de striptease. Vários grupos vinham de Liverpool para se apresentar na cidade alemã. Um proprietário de boate, chamado Bruno, teve a ideia de por essas bandas para tocar em espetáculos ininterruptos, ao longo de horas, a fim de atrair quem passava. Nos EUA isso era chamado de "nonstop striptease". O mundo dá voltas e os Beatles foram contactados pelo tal Bruno. Toparam. Chegaram a fazer dezenas de apresentações em Hamburgo, antes de estourarem mundialmente no início dos anos '60. Chegaram a fazer shows de oito horas seguidas. Isso fez com que a banda se desenvolvesse e amadurecesse, extrapolando o repertório básico e ganhando resistência no palco, e sintonia entre os membros. Para depois abrirem com chave de ouro a década de '60 e conquistarem o mundo.

E John me diria, numa das minhas viagens em que iria vê-los, com a minha câmera rosa-pink:

Melhoramos e ficamos mais confiantes. Isso foi inevitável com aquela experiência de tocar durante toda a noite.

(Essa história do sucesso e oportunidade dos Beatles é citada no livro de Malcolm Gladwell, Outliers - Fora de Série).



Preciso de um pit stop. Aguardem as próximas paradas/destinos!

domingo, 14 de junho de 2009

Inteligências múltiplas

Adoro trabalhar com pessoas. Se não gostasse, certamente teria que mudar de profissão. Mas adoro não ter uma rotina. Gosto de ver que as pessoas que encontro, ainda que sejam as mesmas, não são as mesmas que eram como da última vez que as encontrei. Gosto, sobretudo, de aprender com as pessoas, aprender em conjunto.
Ok, nem sempre é tão legal quanto meu romantismo gostaria que fosse. Trabalhar com pessoas é muito difícil. Pensamos, queremos e fazemos coisas muito diferentes o tempo todo. Desde a vida no lar-doce-lar até o trabalho, a igreja, ou qualquer outra organização que a gente frequente.
Mas, enfim, gosto de pessoas, e sou uma humanista nata, não há mais como fugir disso.

Há um tempinho atrás li um pequeno resumo sobre uma teoria de um estudioso da moda, Howard Gardner, que se chama "Inteligências Múltiplas". Segundo Gardner, há sete tipos de inteligências. Isso explicaria a sensibilidade musical extrema de um Jimi Hendrix ou um Syd Barret, a genialidade de matemáticos como Bhaskara e John Nash, etc. Isso porque, segundo Gardner, as pessoas desenvolvem tipos de inteligências diferentes das outras. Daí pensei que talvez pudesse haver alguma relação entre as minhas tendências com pessoas, já citadas, e algum tipo de inteligência. Vamos ver na qual mais me encaixo:

1. Inteligência Verbal: gosta de escrever (ok), ler (ok) e ouvir (ok). É bom contador de histórias e piadas (não ok). Tem boa memória para nomes, lugares, datas e trivialidades (ok). Tem vocabulário rico (meio ok) e se expressa com fluência e clareza (não ok). Gosta de fazer palavras cruzadas e jogos de palavras (não ok ou meio ok).

2. Inteligência Lógico-Matemática: explora padrões (ok), categorias e relações (não ok). Resolve problemas aritméticos e rapidamente (não ok mesmo!). Gosta de Matemática (não ok) e de usar computadores (ok). Resolve problemas logicamente (não ok). Gosta de xadrez, damas, jogos de estratégias (ok) e enigmas (não ok). Faz experimentos para testar o que não entende com facilidade (não ok).

3. Inteligência Intrapessoal: tem percepção aguda de sentimentos profundos, qualidades e defeitos (ok). Mostra independência, força de vontade e autodireção (ok). Reage com opiniões fortes em discussões controvertidas (não ok). Prefere seu mundo particular (ok). Gosta de isolar-se para produzir projetos ou praticar hobbies (ok). Tem um alto grau de autoconfiança (meio ok). Motivado par aproduzir projetos e estudos pessoais (ok). Habilidade intuitiva (ok).

4. Inteligência Espacial: pensa com imagens e fotos (ok). Gosta de participar de atividades artísticas (meio ok). Visualiza imagens claras quando pensa sobre algo (ok). Lê facilmente mapas e diagramas (meio ok). Desenha representações precisas de pessoas ou coisas (não ok). Gosta de ver filmes, slides ou fotos (ok). Gosta de fazer quebra-cabeças (meio ok).

5. Inteligência Musical: Sensível à vairedade de sons do ambiente (ok). Toca instrumentos (meio ok) e gosta de música (ok). Lembra de melodias de músicas (ok). Percebe uma nota musical desafinada (ok). Prefere estudar (não ok) e trabalhar com música (ok). Coleciona discos (não ok), gosta de cantar e dedicar tempo à música (ok).

6. Inteligência Cinestésico-corporal: Aprende melhor movimentando-se, tocando ou mexendo nas coisas (não ok). Processa o conhecimento através de sensações corporais (não ok). Envolve-se em atividades esportivas (meio ok). Desempenha atividades motoras (não ok). Gosta de tocar ou ser tocado quando fala com as pessoas (meio ok, depende de quem seja). Gosta de aprender usando manipulações e outras práticas (meio ok).

7. Inteligência Interpessoal: Gosta de estar com as pessoas (ok!). Tem muitos amigos (não ok. Poucos, mas grandes amigos). Organiza, comunica e, às vezes, manipula (ok). Aprende melhor relacionando-se e compreendendo (ok). Gosta de atividades em grupo (ok). Serve como mediador nas discussões (ok). Pode ler situações com precisão (meio ok).

Como deu pra perceber, uma pessoa pode ter características de várias inteligências, mesmo que tenha mais características de uma só. O barato do Gardner, certamente, é romper com a inteligência do "QI". Concordo muito que é muito difícil "medir" a inteligência de alguém, mas entre um teste de QI (fiz umas vezes, me senti meio burra), e a teoria do Gardner, fico com esta última!

Intelligence is bliss!

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Twitter, parte 2

Comecei a gostar do negócio. Pqp.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A melhor maneira de se avacalhar um debate

Uma receita infalível!

* Falar do que não entende ou não conhece, deixando o ego saltar à vista dos olhos de todos;
* Apontar só os pontos negativos da realidade;
* Jogar a culpa de tudo o que acontece no mundo no governo;
* Criticar baseado nos "achismos" do senso comum, com bastante intransigência, como se tivesse um rei na barriga;
* Falar só dos modelos "ideais", como se o mundo real não existisse.

Ainda bem que a última sessão da Semana Nacional de Museus (tema: Museu e Turismo) em Aracaju contou com outras mentes além dessas, mentes com visão de mundo, sensibilidade e com boas ideias sobre educação, cultura e mundo real. Quase que rola pau, mas um evento que dá resultados práticos, como parcerias e projetos para ações conjuntas, merece o devido reconhecimento e respeito ao menos da comunidade acadêmica.

Penso que seja esse o propósito das discussões: enriquecer e ampliar visões de mundo, formar opiniões e congregar interesses comuns. Não é só criticar por criticar, só para manter o patamar da sua vaidade lá em cima.

E tiro meu chapéu para a grande mediadora da noite, a Prof. Terezinha, que, na sua coordenação de mesa, conseguiu fazer uma síntese produtiva diante das azáfamas da noite.
Genial, como sempre.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Twitter, pra quê?!

Ontem criei uma conta no Twitter.

Não consegui resistir. Sou uma pessoa de bom coração, mas altamente influenciável.
Certas modas me deixam curiosa, e eu sinto uma necessidade quase urgente de experimentá-las. (Não, nunca usei drogas [ilícitas]).
Pra resumir a história, fui lá, criei a tal conta, e só, mas não vi a menor graça naquilo. Colocar uma frasezinha aqui, outra acolá.
Talvez pelo fato de gostar de escrever (fato este vinculado à minha prolixa profissão, mea culpa), eu não tenha visto a menor utilidade naquilo. Além do mais, já perco tanto tempo na internet com orkut, que nem sei se vale a pena.

Mas, bem, aí me disseram que era legal, mas só quando se tinha uma rede de amigos extensa, e talz. Um dia depois, já tenho três amiguinhos (dois da vida real! congratulations!).

Enfim, continuarei tentando?
Isso fica pro próximo capítulo, não percam.

P.s.: A propósito, se quiserem me adicionar para me ajudarem a expandir a minha rede e eu achar o site legal, o endereço é twitter.com/tatiana_zzz.

Paixão por cidades

Para quem tem paixão por cidades, como eu, aqui vai um link de um blog português sobre cidade e cultura urbana.
Há postagens bem interessantes por fazerem diálogos com o Brasil, com a questão do patrimônio e as dinâmicas e conflitos internos das cidades.

Confira em: www.quintacidade.com

terça-feira, 5 de maio de 2009

Tempos modernos

Há algumas semanas atrás, quando ia, de carro, pro trabalho, parei num cruzamento.
Ora, este não era um cruzamente qualquer, apesar de ter semáforos, encruzilhadas e uma linha de trem. Parei, de fato; minha via deveria estar parada, e foi aí que vi uma cena que nunca sonharia nessa vida presenciar um dia.

O trem vinha vindo.

Ok, não era um daqueles vagões que adentraram o meio-oeste americano no século XIX, ou uma daquelas marias-fumaça estilo novela de época das seis, mas - caramba! - era o trem! Um vagonete com uns operários dentro, que vinha buzinando desde longe, já que ia passar pelo cruzamento por onde passam carros.

Quando pequena, morava perto dessa linha de trem. E quando o trem passava, no fim da tarde, a gurizada toda saía pra poder ver o trem da RFFSA (tive que aprender a dizer por extenso essa sigla nas antigas aulas de "Estudos Sociais" kkk), estampados com o símbolo da Nitrofértil apitando alegremente pelo meio do Siqueira Campos, saindo da Leste e indo para Riachuelo... Ou o raio que o parta.

Mas voltando à história: aquele trenzinho parou. Parou para os carros passarem. Veja bem, antigamente eram os carros que seguramente paravam para o trem passar. E naquele dia vi o trem parar para os carros passarem.

Sacrilégio.Vista do Pátio da Leste - Aracaju, 2005.

Sinto como se estivesse velha; ou não.
Talvez sejam só os tempos que estejam ficando mais modernos, vai saber...

sábado, 2 de maio de 2009

The Baggios, o show!

Aqui: http://magicacaixa.blogspot.com/2009/05/baggios-o-show.html

E viva o rock sergipano!!!

o/

sábado, 25 de abril de 2009

Kundera, o Brad Pitt da Cortina de Ferro

Minha gente, Milan Kundera era o maior gato quando era jovenzinho!!!!
Estava eu folheando o Monde Diplomatique no banheiro essa semana e deparei com uma fotografia em preto e branco de um cara bonito, de terno e cabelo meio de lado. Quando vi quem era.... MILAN KUNDERA!

Nunca tinha parado pra pensar que o autor de um dos grandes livros que já li, A Insustentável Leveza do Ser, pudesse ser um pão em 1975. Sim, porque vim procurar no Google, e as primeiras imagens que aparecem é a de Kundera velho, um canhão, kkkkkkkkkkkk (maldade...)
Enfim, a fotografia de Kundera jovem pelo menos me motivou positivamente pra ler a matéria do Monde... Muito interessante, por sinal, fazendo um comentário sobre a relação entre a literatura do autor e o contexto histórico conturbado em que viveu.

A foto, a propósito, foi tirada na França, um ano após o escritor ter emigrado da Tchecoslováquia soviética.

Mais informações, leia aqui: http://www.standpointmag.co.uk/

terça-feira, 21 de abril de 2009

Tiradentes (21 de Abril)

Ê, laiá...

O grito pode ter partido de um grupo de burgueses individualistas (ou não).

Tiradentes pode ter sido só um bode expiatório (ou não).

O fato é que, no Brasil Império, o projeto liberal já ecoava no grito:

LIBERDADE, AINDA QUE TARDE!

Viva a liberdade que advém do conhecer.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Greve prêt-a-porter (parte 2) - Marx não serve mesmo pra nada

A greve dos ônibus acabou. O dia amanheceu hoje com circulação normal. Percebi quando ia pro posto de saúde fazer curativo no braço. (Sim, os médicos continuam em paralisação).

No semanário Cinform foi publicada apenas uma nota de menos de meia página, com o título "Motoristas decidem pelo fim da greve, mas continuam mobilização", como se não tivessem sido forçados a isso. (Um desembargador declarou a greve ilegal, neste fim de semana, como eu já havia comentado antes.)

As mobilizações que dos trabalhadores do transporte público, que vinham acontecendo na Praça da Bandeira estavam recebendo visitas da Polícia Militar: "Eles chegaram pra gente e mandaram a gente embora, disseram pra gente ir para casa", declarou um rodoviário que não quis se identificar (por que será...?).

O que me chama a atenção é que os interesses dos donos das empresas de transporte urbano é que saíram, mais uma vez, incólumes. Nenhuma mostra de insatisfação popular foi veiculada em qualquer meio de comunicação. A primeira edição do Jornal de Sergipe de hoje apenas notificou que a greve havia acabado, e só. Não vi nenhum dos ditos "intelectuais" sergipanos, que se orgulham tanto de lançar livros e bater papo aos brados em lugares específicos, se pronunciou a respeito. Nenhum topicozinho na net. Nenhuma postagenzinha em blog.

Pronto, esse é o ponto.

Onde está o compromisso social de ser intelectual nessa província?
Onde está a utilidade social de se chamar "mestre" ou "doutor"? Ou isso é meramente um título de nobreza, neste reduto feudal em que vivo? A quanto à Justiça? Será que tem a ver com isso o fato de que parte dos "operadores do Direito" da capital são herdeiros do sistema patriarcal latifundiário de Sergipe desde os tempos do Império? Cadê a dita "esquerda" política, que, outrora, se propunha, pelo menos em seus discursos, defender os direitos e as causas trabalhistas?

Não tem existido governo em Sergipe que não tenha feito acordos com a elite dominante e braços da Justiça, seja esse governo trabalhista ou conservador. E os trabalhadores têm ficado à deriva.

Esqueci de dizer que os professores também estão em greve.
A temporada continua.

domingo, 29 de março de 2009

Greve prêt-a-porter

A moda da estação, na simpática cidade de Aracaju, que completou 154 anos este mês, é a greve.

Os médicos da rede municipal estão em greve desde 3 de março, e as enfermeiras e técnicos estão ameaçando aderir em breve.
Na madrugada da última sexta-feira, 27, foi a vez dos motoristas e cobradores de ônibus iniciarem paralisação, reivindicando aumento salarial, pagamento de horas extras e maior segurança contra assaltos.

Atividades como ir trabalhar, ir à universidade, ir ao posto de saúde, etc, se tornaram um tormento para boa parte da população de Aracaju, cidade com pouco mais de 536 mil habitantes.

Esse mês a passagem de ônibus aumentou de $1,75 para $1,95 (os donos das empresas de ônibus haviam proposto um aumento para $2,10!). Mas boa parte dos ônibus continua em mau estado, especialmente os que fazem linhas para as zonas periféricas da cidade (experimente esperar por um Circular Cidade 2, no Terminal D.I.A., às seis da tarde), e os rodoviários não tiveram aumento salarial. Fora que os assaltos a ônibus continuam crescendo: é muito comum passar pela frente da Delegacia Plantonista da capital e ver um ônibus parado lá, de dia ou de noite.

Nesse mesmo ínterim, a bandeirada do táxi aumentou de $2,80 para $3,10, e com a greve dos ônibus, os taxistas se tornaram os alvos mais visados para assaltos. Só esse final de semana foram três, segundo o motorista com quem viajei ontem à noite. Segundo o mesmo senhor, os policiais militares vão aquartelar essa semana (isso significa um tipo de paralisação).

A cidade está parando, e as reclamações se voltam para o governo municipal. A página da Superintendência de Transporte e Trânsito, SMTT, não pronuncia nada a respeito do caos no transporte público e a população se encontra praticamente indignada, mas apática.

A greve dos rodoviários foi declarada ilegal ainda hoje. Todos os trabalhadores que aderiram à mesma serão demitidos por justa causa, de acordo com o noticiário de hoje. O que quer dizer que vamos continuar pagando $1,95 pelo transporte urbano, e rodando em ônibus esfrangalhados, velhos, e sujos, e reclamando disso com os motoristas e cobradores, como se eles fossem os donos dos carros.

Nos últimos anos, nem pichações de protesto de cunho social e/ou político vemos mais pela cidade, ao lado dos grafites. Mais um indício de que maus serviços públicos e acordos insatisfatórios entre trabalhadores e patrões serão, mais uma vez, a tendência da estação.

quinta-feira, 5 de março de 2009

O historiador e a verdade social

Bertolt Brecht escreveu um texto sobre cinco dificuldades para se escrever a verdade social.

"Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundi-la entre estes."

(BRECHT, Bertolt. As cinco dificuldades para escrever a verdade social. In: Fragmentos de Cultura. Goiânia. v. 13. n. 6. nov/dez. 2003. p. 1201-1212).

É fato que o trabalho do historiador está sempre em algum tipo de relação com a verdade (seja lá o que as especulações filosóficas queiram definir). Seja para revelá-la, mascará-la, manipulá-la, ou escondê-la, não há como fugir dela.

A questão é que quanto mais complexa fica a sociedade moderna, mais essa relação se torna problemática. (Como, aliás, a sociedade moderna, as pessoas "modernas" e a própria "modernidade"). Já que o trabalho do historiador não tem como escapar da parcialidade, de que lado ficar quando assistimos o presidente do Sudão rechaçando a sua prisão decidida pelo Tribunal de Haia, instância jurídica da ONU, pelas atrocidades cometidas em Darfur? Se de um lado emitiam-se ordens para soldados Janjaweed estuprarem meninas darfurianas, por outro lado há um fundo de razão quando o presidente afirma que "não se ajoelhará para os colonialistas". Os mesmos colonialistas que jogaram o mapa da África numa mesa, no século XIX, para dividi-la e reparti-la entre si.

A linguagem é metafórica. Mas a realidade, nem tanto.

terça-feira, 3 de março de 2009

Primeiro dia de aula

Ontem, 2 de março de 2009.

(Sem aquelas babaquices de "porque faço Inglês, first day of school". Isso me lembra outra história, não é nem pelo fato de dizer em inglês. First day of school, o caralho. Pronto, falei. A outra história fica pra próximas histórias.)

1. O disfarce

Queria passar o menos suspeitamente possível. Vesti meu jeans claro manjado (como se algum não fosse), blusa preta básica, de alça, sapatilha, cabelo preso, fivelinhas prateadas, bolsa de pano com chaveiro de bonequinha. Não queria dar motivos que fizessem as pessoas sequer suspeitarem de que eu não passava de uma calourinha típica em seu primeiro dia de aula na universidade, ui, ui, ui. Só não ando em bandos, pelamor, já basta o caderno novo. (Que, aliás, nem é tão novo assim: comprei-o há uns dois ou três anos, precisando completar uma conta na loja, e nunca o havia usado. Até que enfim terá alguma utilidade.)


2. A chegada

Eu mal podia acreditar, mas estava sentindo aqueles calafrios na barriga quando meu irmão me deixou na universidade. (Incorporei "realmente" o meu "disfarce" hohoho). Era um misto de nervosismo, com estranhamento e também - como não haveria de sê-lo? - nostalgia... Quase quatro anos depois eu estava de volta ali. Mas as pessoas não eram as mesmas, quanto mais os prédios. Acabei descobrindo que dentro da tal Didática 5, onde deveria ter havido minha primeira aula, não existe um shopping, graças a Deus, o que provou serem falsos antigos boatos capitalistas.

Tinha uma faixa de boas-vindas do Centro Acadêmico que achei bem... hã... preconceituosa.

"Bem-vinda, elite letrada da UFS".
Or kinda.



3. A aula

Como era meio de se esperar, não houve aulas, das duas que estavam no horário. (Colei meu horário com durex na parte interna da capa do meu fichário do Ursinho Puff. Parte do disfarce). Me bati um pouco pra encontrar a sala, pois ficava num prédio novo, mas acabei achando logo. Era um salão enorme, com dois níveis de solo e cadeiras azuis acolchoadas, mas minúsculas. (Fiquei bem desconfortável depois, porque a cadeira praticamente me obrigava a sentar como se tivesse engolido um cabo de vassoura e eu resistia a isso.)
Como bons calouros, o pessoal da turma que já havia chegado estava sentado nas tais carteiras desconfortáveis. Parei na porta da sala, olhei pra eles, olhei pro birô vazio, e me veio uma tentação fortíssima de me sentar ali e começar a falar, igualzinho ao Leonardo DiCaprio em "Prenda-me se for capaz", hahahaha. Mas resisti a isso também.

Claro que não sabíamos que certamente não ia ter aula; havia uma possibilidade, ainda que mínima. Então esperei. Esperei e esperei. Tinha pensado em levar o "Seis Contos da Era do Jazz", do Fitzgerald, mas isso seria denunciador e muito cult; avacalharia meu disfarce. Acabei levando Peanuts e fiquei lendo e rindo alto mais tarde, sentada na escada do prédio, depois que desisti (e cansei) de esperar.

4. A turma

Não formei nenhuma impressão sobre a turma, até porque tive contato com pouquíssimas pessoas. Mas observei que tem muitos homens; eu esperava muito mais mulheres, para um curso de Letras.

5. Cai o disfarce

Daí fui pra segunda aula, às 21h, já em outra sala. E encontrei bem na porta uma colega que tinha se formado comigo. Começamos a conversar, pererê, parará, metade do pessoal da turma sentado no corredor, e conversa vai, conversa vem, a minha colega pergunta: "Quantos anos tem mesmo que a gente se formou? Quase quatro, né?" E aí umas pessoas olharam, porque o assunto da noite acabou sendo esse mesmo, hunf, fazer o quê, identidades secretas nunca duram pra sempre mesmo.

E, como sou brasileira e blá blá blá, hoje estarei lá de novo. UUUUHHHH!

Bem, pra terminar a noitada, segui um dos meus conselhos de veterana que dei a mim mesma: sempre olhe os murais da UFS. Esse valeu a pena:

Coverama 2009

2a. eliminatória: 4 de abril
Bob Marley, Arctic Monkeys, Amy Winehouse, Planet Hemp, Slipknot, Rush, Abba, CPM22, e mais um que ficou ilegível na foto.

3a. eliminatória: 9 de maio
The Libertines, Paramore, Capital Inicial, The Cardigans, Motorhead, Helloween, Jimmy Hendrix, e mais outro que ficou ilegível.

4a. eliminatória: 8 de agosto
Beatles, Radiohead, Spice Girls, Raul Seixas, The Clash, Sum 41 [?], Black Sabbath, Titãs, e ainda mais outro ilegível.

5a. eliminatória: 5 de setembro
The Police, Franz Ferdinand, Legião Urbana, Sex Pistols, Velhas Virgens, Within Temptation, Dream Theater, The Animals (cansei de falar dos ilegíveis).

Dá-lhe, 2009!

domingo, 1 de março de 2009

Tédio

"Boa noite, Tatiana!
Você não tem novas mensagens em sua pasta Entrada."

Hunf. Dammit.
O excesso de boa educação do Yahoo! às vezes me irrita.
Só às vezes.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

"Raspa de sol"

Estou com uma feridinha no braço. Tinha uma bolha, antes, daí eu papoquei. Tenho uma certa obssessão com bolhas, sempre papoco todas. Daí como é no cotovelo, a casquinha quebrou.
Pra cicatrizar, acho que passarei raspa de sol.

O quê? Nunca ouviu falar disso?

Essa é notável, e quem me contou foi quem vivenciou a história.
Um amigo meu, dentista, trabalha no interior, atendendo.
Um dia veio uma senhora, e puxou um papo sobre uma ferida no braço, sem se importar se ele era médico de dentes ou de perebas. Conversa vai, conversa vem, ela soltou essa:

- Doutor, eu tava com uma firida no braço, mas aí eu passei raspa de sol e curou!
- Raspa de sol, dona Fulana? O que é isso?
- Ah, doutor, raspa de sol é quando o sol entra por aquela "resta" no telhado e bate na parede. Aí cê vai lá, raspa o pedaço da parede no lugar da "resta" e passa na firida.

APRENDAM!
SABEDORIA POPULAR RULES!

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Carnaval

Passei o Carnaval na praia.
Escorregando em dunas, jogando pôquer e rindo muito.

O que é uma novidade, porque quase nunca vou à praia. E muito menos no Carnaval, acredite.
Meus oito últimos carnavais foram passados estudando (ah, aquele artigo de História Antiga!!!), ou na net (nos tempos do velho e bom mirc), ou "acampando" e sendo devorada por mosquitos, ou fazendo nada interessante.

Já que a palavra das últimas semanas tem sido "mudança"... bem, mudar me fez bem, em todos os sentidos.

Quatro dias longe de qualquer pensamento sobre trabalho.
O paraíso.

Mudança

Passei algumas poucas semanas sem internet porque me mudei.
E, como diria o Rafiki, aquele babuíno coroco e inteligente de "O Rei Leão":

"Mudar é bom... mas é difííícil!"

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

II Encontro Educativo-Cultural de História de Sergipe da UVA

Ééééé, e por fim aconteceu!
O II Encontro de História de Sergipe da UVA, realizado nesse fim de semana de 31 de janeiro e 1o. de fevereiro contou com bons momentos e surpresas, como a presença de Zé Peixe e sua memória impressionante, (nota para a tentativa quase centenário velhinho de se levantar da cadeira a cada salva de palmas que recebia); a feira dos municípios, com participações de Dores, Tobias Barreto, Aracaju, entre outros; a palestra do Prof. Francisco sobre Sergipe Colonial, e o encerramento com a apresentação musical de Chiko Queiroga e Antônio Rogério, que fizeram todos cantarem junto.
E, claro, a grande vibe com certeza foi muita gente legal participando do encontro, que lotou o auditório do Colégio São José, em Aju. Confira alguns momentos do sábado:

Mesa redonda de abertura

Alunos no auditório

Apresentação de stand na feira dos Municípios sergipanos

Professores: Tadeu, Fernando e Patrícia

Gente do bem: eu e o grande Ronaldo Guirra!

Palestra do Prof. Francisco Alves sobre fontes para a história de Sergipe Colonial

Zé Peixe e a riqueza da história oral

Lançamento do livro do Prof. Robervan, "Os espanhóis em Sergipe"

Apresentação musical de Chiko Queiroga e Antônio Rogério

Alunos de Dores, uma turma pra lá de animada

Professores do Colegiado de História: um bando de pessoas bem respeitadas :)



quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

UMA RODADA DE FLASHES PRA GALERA!

Quando eu era pré-adolescente, tipo uns onze, doze anos, comecei a pedir a máquina fotográfica a minha mãe pra levar para a escola, e para as excursões que começavam a aparecer. Era uma máquina daquelas antiguinhas, que a gente colocava o filme de 36 poses (o mais caro), tirava as fotos, e no final esperava que ele viesse com umas poses a mais.

Sempre fui muito atraída por imagens, e eu adorava tirar fotos. De paisagens, dos amigos, de coisas aleatórias. Mas eu sempre tomava uns esporros por minhas realizações felizes da adolescência, porque afinal de contas, teoricamente, aqui em casa, uma máquina fotográfica deveria ser para tirar fotos de você mesmo: você com as paisagens, ou você com seus amigos. Aí eu pensava: "Quando eu crescer e trabalhar vou comprar uma máquina para eu tirar foto do que eu quiser."

Pois bem, há menos de dois anos consegui comprar minha primeira máquina digital. Sem consultar ninguém, comprei uma e me dei de presente de aniversário e me dei mal: a câmera era péssima. Depois que percebi que realmente minha aquisição não ia servir para muita coisa, me decidi a comprar outra melhor. Fiz pesquisas e me informei com gente entendida, e escolhi o modelo.

Segunda quando cheguei do trabalho e fui para a pousada onde estava hospedada, liguei a TV e estava passando o programa Roda Viva. Dois fotógrafos-jornalistas estavam sendo entrevistados e fiquei assistindo loucamente, a curiosidade brotando de cada poro. "Amanhã vou comprar uma máquina", pensei. E ontem consegui comprar minha câmera. E estou feliz por por começar mais uma etapa de fotos aleatórias do que eu quiser.


Só algumas poucas coisas têm o mesmo efeito em intensidade que a satisfação por uma meta cumprida! :D

domingo, 18 de janeiro de 2009

Fedor

Semana passada descobri que uma das traduções para o primeiro nome de Fiodor Dostoievski é, nada mais, nada menos que "Fedor". Pronunciado "Fé-dór", claro. Mas confesso que minha primeira leitura enxergou "Fêdôr". O notável autor de Crime e Castigo e Os Irmãos Karamazov deve ter se remexido na tumba.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Eu, Brigitte Bardot

Logo de entrada já digo que o título deste post é uma piada! HUAHEUAHE Não quero - nem posso! - me equiparar à diva francesa que fez sucesso nas telonas nos anos 50 ou 60. "Brigitte Bardot" é como me chama meu irmão do meio, quando estou usando óculos escuros. Diz ele que são "estranhos" (é o modo hermanístico de dizer "fashion").
Nesse verão me apaixonei pelo modelo wayfarer, originalmente lançado pela Rayban, há não sei quantas décadas, e que - mais uma vez - é o novo frisson do momento no mundo da moda.
Eles também usam:

Bob Dylan

Audrey Hepburn

Heath Ledger

Robert Pattinson e Kristen Stewart, Crepúsculo (Twilight)

Ezra Koenig, Vampire Weekend (L)




Post inspirado em: http://outofcapecod.blogspot.com/2008/07/wayfarers.html, blog de moda que fez uma boa coleta de usuários de wayfarers! ;D

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Flora X Floro

Encontre as diferenças entre os dois, porque as semelhanças já são muitas:

Flora Pereira
: assassina maluca; atira na irmã adotiva num teatro em São Paulo e foge em ambulância. Interpretada por Patrícia Pillar, casada com um político.




Floro Calheiros: [content supressed]; [content supressed], foge de hospital em Aracaju disfarçado de médico e usando peruca. Acusado de assassinato de político. É um político.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Curtas (ou "os primeiros dias de 2009")

Eba, 2009!
Foi-se 2008, graças aos céus.
Ontem, primeiro de janeiro, Aracaju apareceu três vezes no Jornal Nacional; achei engraçadíssimo! A primeira vez, na previsão do tempo; a segunda, mostrando o prefeito reeleito, Edvaldo Nogueira; a terceira, imagens da virada na praia. EEHH!

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E vão-se os anéis, ficam os dedos.
O conflito entre israelenses e palestinos vem se agravando a cada dia. "Situação de emergência crítica", diz a ONU. Centenas de mortos, entre israelenses e palestinos. Israel continua os ataques desproporcionais, e os palestinos pedem uma nova intifada, uma forte revolta contra os israelenses. Não vou analisar esse conflito aqui, agora. A propósito, ele não deve ser analisado de forma simplória (sem a devida contextualização). E cuidado, caros leitores, com as opiniões dos intelectuais a serviço dos impérios (conversa para postagens vindouras).

Segue um bonito poema de Sean O'Brien, publicado na edição de hoje do The Guardian [tradução livre]. Porque é uma capacidade exclusivamente humana ver as coisas pelo prisma da poesia, talvez um jeito que criamos para conseguir encarar nossas próprias mazelas...

Katyusha*

Katyusha, Katyusha,
Flecha de fogo:
O Reino Vindouro é
Acima ou abaixo?
Sufocado num túnel
Com morfina e pão,
Ou queimado nas ruínas
De um olival?
Katyusha, Katyusha,
Lança de desejo,
São aquelas pastagens,
Um bravo deserto rosa,
Ou devem ser uma prisão
Com pilares de fogo?
Katyusha, Katyusha,
Uma sepultura, ou uma rosa?
Katyusha, Katyusha,
Só Deus é que sabe.


* Katyusha são mísseis de bombardeio.

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Aquela operação Satyagraha fedeu. E sobrou pro diretor da ABIN, Paulo Lacerda: no finzinho de 2008, o sujeito foi exonerado do cargo para assumir um outro "recém-criado de adido policial da embaixada brasileira em Lisboa." Aham.

A propósito, "Satyagraha" é um neologismo inventado por Gandhi na sua luta pela libertação da Índia do domínio britânico durante a primeira metade do século XX. Significa "firmeza na verdade". Mas a tentativa brasileira foi louvável. ("Aham", dirá alguém com língua mais ferina que a minha).

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É. "Vão-se os anéis, ficam os dedos." Sabedoria popular. Muito sábia, por sinal.