quinta-feira, 5 de março de 2009

O historiador e a verdade social

Bertolt Brecht escreveu um texto sobre cinco dificuldades para se escrever a verdade social.

"Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundi-la entre estes."

(BRECHT, Bertolt. As cinco dificuldades para escrever a verdade social. In: Fragmentos de Cultura. Goiânia. v. 13. n. 6. nov/dez. 2003. p. 1201-1212).

É fato que o trabalho do historiador está sempre em algum tipo de relação com a verdade (seja lá o que as especulações filosóficas queiram definir). Seja para revelá-la, mascará-la, manipulá-la, ou escondê-la, não há como fugir dela.

A questão é que quanto mais complexa fica a sociedade moderna, mais essa relação se torna problemática. (Como, aliás, a sociedade moderna, as pessoas "modernas" e a própria "modernidade"). Já que o trabalho do historiador não tem como escapar da parcialidade, de que lado ficar quando assistimos o presidente do Sudão rechaçando a sua prisão decidida pelo Tribunal de Haia, instância jurídica da ONU, pelas atrocidades cometidas em Darfur? Se de um lado emitiam-se ordens para soldados Janjaweed estuprarem meninas darfurianas, por outro lado há um fundo de razão quando o presidente afirma que "não se ajoelhará para os colonialistas". Os mesmos colonialistas que jogaram o mapa da África numa mesa, no século XIX, para dividi-la e reparti-la entre si.

A linguagem é metafórica. Mas a realidade, nem tanto.

2 comentários:

guitton disse...

Prezada Tati, muito bom seu blog; gostaria de saber se a frase ("Eu vivia bem sem Marx") é sua e a razão do sobrenome "Saudade de Deus". Tudo de bom.

tatiana_zzz disse...

Oi, Leonardo! A frase é minha, sim. "Saudade de Deus" tem a ver com o sentimento perpétuo de nostalgia do eterno que sempre tive. Como vc descobriu o blog? Obrigada pela visita! Abraço!