quinta-feira, 2 de julho de 2009

Viagens no tempo - Parte 1

Aproveitando um tempinho de folga, aproveito para publicar essa postagem que já estava cozinhando na cabeça desde ontem. Hoje vou falar sobre viajar no tempo. OH! Coisa de criança?



A maioria das pessoas que imaginam viagens no tempo geralmente associam isso a uma máquina. Como H. G. Wells, no livro que deu nome ao filme "A Máquina do Tempo", ou até o Delorean da trilogia "De volta para o futuro". Há também os que imaginam viajar no tempo/espaço através de portais, como os criadores do primeiro filme "O Exterminador do Futuro", ou mais ou menos como os de "Stargate", aquela famosa série do final dos anos '90. E há aquela tendência mais diferenciada de "Efeito Borboleta", em que, para viajar por suas memórias, o protagonista pode fazê-lo através dos seus cadernos e fitas de vídeo.

Há quem queira voltar no tempo para consertar erros e tomar umas atitues, em vez de outras.
Não penso muito nisso. Imagino viagens no tempo e no espaço para responder perguntas da minha curiosidade, ou simplesmente para observar e saber se a História tem feito jus ao passado. Claro, não basta pra isso voltar só no tempo: no espaço também. Pra fazer coisas com algumas pessoas. Como por exemplo...


1. Brasil, 1984 - O país imaginado: campanha pelas Diretas.
Ok, em 1984 eu já era nascida, mas com 2 anos de idade não dá pra ter muita noção do que vinha mudando na cena política e social brasileira depois de vinte anos de ditadura militar e repressão aos direitos, especialmente os direitos civis.


Quem de fato saía às ruas pra exigir eleições diretas pra presidente? Que pessoas, que artistas, que trabalhadores? E o que diziam, como diziam, no que pensavam? Como eram realizados os comícios? Quem ia pra lá? O que essas pessoas conversavam enquanto esperavam o comício conversar?
Apesar de frustradas, as Diretas Já foram um marco em termos de manifestação na longa marcha pela cidadania no Brasil.

(Quer saber mais? Consulte Cidadania no Brasil. O Longo Caminho, do José Murillo de Carvalho, um senhor livro.)


2. Paris, França, 1975. Às margens do Sena com Milan Kundera.

Depois do que ficou conhecido como "Primavera de Praga", um nome bonito para uma repressão nada bonita realizada pelas forças soviéticas contra a abertura do socialismo tcheco, em 1968, muitos intelectuais e profissionais liberais, e gente envolvida com a resistência, teve que deixar a então Tchecoslováquia. O jovem escritor Milan Kundera foi um deles, indo exilar-se em Paris, em 1975.

Durante minha conversa com Kundera, regada a cafés com creme, croissants e charutos, num cafezinho simpático às margens do Sena, ele me contaria a história da resistência tcheca do seu próprio ponto de vista, e como o contexto político deu o tom a "A Insustentável Leveza do Ser". Me diria também, lógico, porque eu sou bem "brother", em que pensamentos e sentimentos se baseou para compor a história de Thomas e Thereza, personagens tão opostos e tão complementares. E, calro, tiraria uma casquinha dele, porque o cara era um pão quando era jovenzinho. O que confirma a minha máxima de que a França exala romance e rebeldia por cada um de seus poros.

(Sobre a Primavera de Praga, Eric Hobsbawm dedica um capítulo do seu livro Era dos Extremos - O Breve Século XX.)

3. Hamburgo, Alemanha, 1957. With the Beatles!

Nessa época não existiam casas noturnas e muito menos discotecas em Hamburgo. Os lugares que faziam os dias e as noites passarem a toque de caixa e rock'n'roll eram as boates de striptease. Vários grupos vinham de Liverpool para se apresentar na cidade alemã. Um proprietário de boate, chamado Bruno, teve a ideia de por essas bandas para tocar em espetáculos ininterruptos, ao longo de horas, a fim de atrair quem passava. Nos EUA isso era chamado de "nonstop striptease". O mundo dá voltas e os Beatles foram contactados pelo tal Bruno. Toparam. Chegaram a fazer dezenas de apresentações em Hamburgo, antes de estourarem mundialmente no início dos anos '60. Chegaram a fazer shows de oito horas seguidas. Isso fez com que a banda se desenvolvesse e amadurecesse, extrapolando o repertório básico e ganhando resistência no palco, e sintonia entre os membros. Para depois abrirem com chave de ouro a década de '60 e conquistarem o mundo.

E John me diria, numa das minhas viagens em que iria vê-los, com a minha câmera rosa-pink:

Melhoramos e ficamos mais confiantes. Isso foi inevitável com aquela experiência de tocar durante toda a noite.

(Essa história do sucesso e oportunidade dos Beatles é citada no livro de Malcolm Gladwell, Outliers - Fora de Série).



Preciso de um pit stop. Aguardem as próximas paradas/destinos!