segunda-feira, 30 de março de 2009

Greve prêt-a-porter (parte 2) - Marx não serve mesmo pra nada

A greve dos ônibus acabou. O dia amanheceu hoje com circulação normal. Percebi quando ia pro posto de saúde fazer curativo no braço. (Sim, os médicos continuam em paralisação).

No semanário Cinform foi publicada apenas uma nota de menos de meia página, com o título "Motoristas decidem pelo fim da greve, mas continuam mobilização", como se não tivessem sido forçados a isso. (Um desembargador declarou a greve ilegal, neste fim de semana, como eu já havia comentado antes.)

As mobilizações que dos trabalhadores do transporte público, que vinham acontecendo na Praça da Bandeira estavam recebendo visitas da Polícia Militar: "Eles chegaram pra gente e mandaram a gente embora, disseram pra gente ir para casa", declarou um rodoviário que não quis se identificar (por que será...?).

O que me chama a atenção é que os interesses dos donos das empresas de transporte urbano é que saíram, mais uma vez, incólumes. Nenhuma mostra de insatisfação popular foi veiculada em qualquer meio de comunicação. A primeira edição do Jornal de Sergipe de hoje apenas notificou que a greve havia acabado, e só. Não vi nenhum dos ditos "intelectuais" sergipanos, que se orgulham tanto de lançar livros e bater papo aos brados em lugares específicos, se pronunciou a respeito. Nenhum topicozinho na net. Nenhuma postagenzinha em blog.

Pronto, esse é o ponto.

Onde está o compromisso social de ser intelectual nessa província?
Onde está a utilidade social de se chamar "mestre" ou "doutor"? Ou isso é meramente um título de nobreza, neste reduto feudal em que vivo? A quanto à Justiça? Será que tem a ver com isso o fato de que parte dos "operadores do Direito" da capital são herdeiros do sistema patriarcal latifundiário de Sergipe desde os tempos do Império? Cadê a dita "esquerda" política, que, outrora, se propunha, pelo menos em seus discursos, defender os direitos e as causas trabalhistas?

Não tem existido governo em Sergipe que não tenha feito acordos com a elite dominante e braços da Justiça, seja esse governo trabalhista ou conservador. E os trabalhadores têm ficado à deriva.

Esqueci de dizer que os professores também estão em greve.
A temporada continua.

domingo, 29 de março de 2009

Greve prêt-a-porter

A moda da estação, na simpática cidade de Aracaju, que completou 154 anos este mês, é a greve.

Os médicos da rede municipal estão em greve desde 3 de março, e as enfermeiras e técnicos estão ameaçando aderir em breve.
Na madrugada da última sexta-feira, 27, foi a vez dos motoristas e cobradores de ônibus iniciarem paralisação, reivindicando aumento salarial, pagamento de horas extras e maior segurança contra assaltos.

Atividades como ir trabalhar, ir à universidade, ir ao posto de saúde, etc, se tornaram um tormento para boa parte da população de Aracaju, cidade com pouco mais de 536 mil habitantes.

Esse mês a passagem de ônibus aumentou de $1,75 para $1,95 (os donos das empresas de ônibus haviam proposto um aumento para $2,10!). Mas boa parte dos ônibus continua em mau estado, especialmente os que fazem linhas para as zonas periféricas da cidade (experimente esperar por um Circular Cidade 2, no Terminal D.I.A., às seis da tarde), e os rodoviários não tiveram aumento salarial. Fora que os assaltos a ônibus continuam crescendo: é muito comum passar pela frente da Delegacia Plantonista da capital e ver um ônibus parado lá, de dia ou de noite.

Nesse mesmo ínterim, a bandeirada do táxi aumentou de $2,80 para $3,10, e com a greve dos ônibus, os taxistas se tornaram os alvos mais visados para assaltos. Só esse final de semana foram três, segundo o motorista com quem viajei ontem à noite. Segundo o mesmo senhor, os policiais militares vão aquartelar essa semana (isso significa um tipo de paralisação).

A cidade está parando, e as reclamações se voltam para o governo municipal. A página da Superintendência de Transporte e Trânsito, SMTT, não pronuncia nada a respeito do caos no transporte público e a população se encontra praticamente indignada, mas apática.

A greve dos rodoviários foi declarada ilegal ainda hoje. Todos os trabalhadores que aderiram à mesma serão demitidos por justa causa, de acordo com o noticiário de hoje. O que quer dizer que vamos continuar pagando $1,95 pelo transporte urbano, e rodando em ônibus esfrangalhados, velhos, e sujos, e reclamando disso com os motoristas e cobradores, como se eles fossem os donos dos carros.

Nos últimos anos, nem pichações de protesto de cunho social e/ou político vemos mais pela cidade, ao lado dos grafites. Mais um indício de que maus serviços públicos e acordos insatisfatórios entre trabalhadores e patrões serão, mais uma vez, a tendência da estação.

quinta-feira, 5 de março de 2009

O historiador e a verdade social

Bertolt Brecht escreveu um texto sobre cinco dificuldades para se escrever a verdade social.

"Hoje, o escritor que deseje combater a mentira e a ignorância tem de lutar, pelo menos, contra cinco dificuldades. É-lhe necessária a coragem de dizer a verdade, numa altura em que por toda parte se empenham em sufocá-la; a inteligência de a reconhecer, quando por toda a parte a ocultam; a arte de a tornar manejável como uma arma; o discernimento suficiente para escolher aqueles em cujas mãos ela se tornará eficaz; finalmente, precisa de ter habilidade para difundi-la entre estes."

(BRECHT, Bertolt. As cinco dificuldades para escrever a verdade social. In: Fragmentos de Cultura. Goiânia. v. 13. n. 6. nov/dez. 2003. p. 1201-1212).

É fato que o trabalho do historiador está sempre em algum tipo de relação com a verdade (seja lá o que as especulações filosóficas queiram definir). Seja para revelá-la, mascará-la, manipulá-la, ou escondê-la, não há como fugir dela.

A questão é que quanto mais complexa fica a sociedade moderna, mais essa relação se torna problemática. (Como, aliás, a sociedade moderna, as pessoas "modernas" e a própria "modernidade"). Já que o trabalho do historiador não tem como escapar da parcialidade, de que lado ficar quando assistimos o presidente do Sudão rechaçando a sua prisão decidida pelo Tribunal de Haia, instância jurídica da ONU, pelas atrocidades cometidas em Darfur? Se de um lado emitiam-se ordens para soldados Janjaweed estuprarem meninas darfurianas, por outro lado há um fundo de razão quando o presidente afirma que "não se ajoelhará para os colonialistas". Os mesmos colonialistas que jogaram o mapa da África numa mesa, no século XIX, para dividi-la e reparti-la entre si.

A linguagem é metafórica. Mas a realidade, nem tanto.

terça-feira, 3 de março de 2009

Primeiro dia de aula

Ontem, 2 de março de 2009.

(Sem aquelas babaquices de "porque faço Inglês, first day of school". Isso me lembra outra história, não é nem pelo fato de dizer em inglês. First day of school, o caralho. Pronto, falei. A outra história fica pra próximas histórias.)

1. O disfarce

Queria passar o menos suspeitamente possível. Vesti meu jeans claro manjado (como se algum não fosse), blusa preta básica, de alça, sapatilha, cabelo preso, fivelinhas prateadas, bolsa de pano com chaveiro de bonequinha. Não queria dar motivos que fizessem as pessoas sequer suspeitarem de que eu não passava de uma calourinha típica em seu primeiro dia de aula na universidade, ui, ui, ui. Só não ando em bandos, pelamor, já basta o caderno novo. (Que, aliás, nem é tão novo assim: comprei-o há uns dois ou três anos, precisando completar uma conta na loja, e nunca o havia usado. Até que enfim terá alguma utilidade.)


2. A chegada

Eu mal podia acreditar, mas estava sentindo aqueles calafrios na barriga quando meu irmão me deixou na universidade. (Incorporei "realmente" o meu "disfarce" hohoho). Era um misto de nervosismo, com estranhamento e também - como não haveria de sê-lo? - nostalgia... Quase quatro anos depois eu estava de volta ali. Mas as pessoas não eram as mesmas, quanto mais os prédios. Acabei descobrindo que dentro da tal Didática 5, onde deveria ter havido minha primeira aula, não existe um shopping, graças a Deus, o que provou serem falsos antigos boatos capitalistas.

Tinha uma faixa de boas-vindas do Centro Acadêmico que achei bem... hã... preconceituosa.

"Bem-vinda, elite letrada da UFS".
Or kinda.



3. A aula

Como era meio de se esperar, não houve aulas, das duas que estavam no horário. (Colei meu horário com durex na parte interna da capa do meu fichário do Ursinho Puff. Parte do disfarce). Me bati um pouco pra encontrar a sala, pois ficava num prédio novo, mas acabei achando logo. Era um salão enorme, com dois níveis de solo e cadeiras azuis acolchoadas, mas minúsculas. (Fiquei bem desconfortável depois, porque a cadeira praticamente me obrigava a sentar como se tivesse engolido um cabo de vassoura e eu resistia a isso.)
Como bons calouros, o pessoal da turma que já havia chegado estava sentado nas tais carteiras desconfortáveis. Parei na porta da sala, olhei pra eles, olhei pro birô vazio, e me veio uma tentação fortíssima de me sentar ali e começar a falar, igualzinho ao Leonardo DiCaprio em "Prenda-me se for capaz", hahahaha. Mas resisti a isso também.

Claro que não sabíamos que certamente não ia ter aula; havia uma possibilidade, ainda que mínima. Então esperei. Esperei e esperei. Tinha pensado em levar o "Seis Contos da Era do Jazz", do Fitzgerald, mas isso seria denunciador e muito cult; avacalharia meu disfarce. Acabei levando Peanuts e fiquei lendo e rindo alto mais tarde, sentada na escada do prédio, depois que desisti (e cansei) de esperar.

4. A turma

Não formei nenhuma impressão sobre a turma, até porque tive contato com pouquíssimas pessoas. Mas observei que tem muitos homens; eu esperava muito mais mulheres, para um curso de Letras.

5. Cai o disfarce

Daí fui pra segunda aula, às 21h, já em outra sala. E encontrei bem na porta uma colega que tinha se formado comigo. Começamos a conversar, pererê, parará, metade do pessoal da turma sentado no corredor, e conversa vai, conversa vem, a minha colega pergunta: "Quantos anos tem mesmo que a gente se formou? Quase quatro, né?" E aí umas pessoas olharam, porque o assunto da noite acabou sendo esse mesmo, hunf, fazer o quê, identidades secretas nunca duram pra sempre mesmo.

E, como sou brasileira e blá blá blá, hoje estarei lá de novo. UUUUHHHH!

Bem, pra terminar a noitada, segui um dos meus conselhos de veterana que dei a mim mesma: sempre olhe os murais da UFS. Esse valeu a pena:

Coverama 2009

2a. eliminatória: 4 de abril
Bob Marley, Arctic Monkeys, Amy Winehouse, Planet Hemp, Slipknot, Rush, Abba, CPM22, e mais um que ficou ilegível na foto.

3a. eliminatória: 9 de maio
The Libertines, Paramore, Capital Inicial, The Cardigans, Motorhead, Helloween, Jimmy Hendrix, e mais outro que ficou ilegível.

4a. eliminatória: 8 de agosto
Beatles, Radiohead, Spice Girls, Raul Seixas, The Clash, Sum 41 [?], Black Sabbath, Titãs, e ainda mais outro ilegível.

5a. eliminatória: 5 de setembro
The Police, Franz Ferdinand, Legião Urbana, Sex Pistols, Velhas Virgens, Within Temptation, Dream Theater, The Animals (cansei de falar dos ilegíveis).

Dá-lhe, 2009!

domingo, 1 de março de 2009

Tédio

"Boa noite, Tatiana!
Você não tem novas mensagens em sua pasta Entrada."

Hunf. Dammit.
O excesso de boa educação do Yahoo! às vezes me irrita.
Só às vezes.